Descrição detalhada
A epidemia da obesidade permanece como um dos maiores desafios da saúde pública. A sua complexa etiologia dificulta a identificação de determinantes para além do modelo clássico do balanço energético. As hipóteses dos obesogénios e dos disruptores metabólicos sugerem um papel importante dos xenobióticos na obesidade e doença metabólica, particularmente dos veiculados pela alimentação. Os aditivos alimentares e compostos químicos resultantes do processamento e embalagem de alimentos, são de particular interesse pelo aumento da exposição nas últimas décadas. Estes químicos podem agir como obesogénios/disruptores metabólicos por desregulação da função endócrina, alteração do controlo hormonal do equilíbrio apetite-saciedade, alteração do balanço energético e da taxa de metabolismo basal, ter influência na função adipocitária e/ou no metabolismo da glicose-insulina. Adicionalmente, condicionando a insulinorresistência e os processos inflamatórios, estes compostos podem também ter efeito na função cognitiva.
A maior parte dos estudos foi realizada in vitro ou em modelos animais, sendo poucos os desenvolvidos em populações humanas com desenho longitudinal. Um dos desafios metodológicos nesta área é a avaliação da exposição a estes compostos alimentares em estudos epidemiológicos. O uso da descrição detalhada da informação individual da ingestão alimentar, de acordo com padrões europeus, e o desenvolvimento de modelos preditivos de avaliação pode, em parte, resolver alguns destes desafios.
O projeto permitirá descrever a exposição a xenobióticos alimentares usando informação de consumo alimentar recolhida previamente numa amostra representativa da população Portuguesa (Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física - IAN-AF 2015-2016) e desenvolver modelos estatísticos preditivos para melhor estimar a exposição, usando adicionalmente biomarcadores de exposição em amostras biológicas de urina. O projeto pretende ainda compreender melhor a influência destes compostos na adiposidade e na função cognitiva da infância à adolescência, tentando compreender caminhos metabólicos comuns, usando uma abordagem longitudinal com dados de uma coorte de nascimento de base populacional - Geração 21.
O cumprimento dos objetivos é assegurado pela inclusão de investigadores de diversas áreas (nutrição, psicologia, toxicologia alimentar e matemática) e pela sua larga experiência em estudos de coorte. O projeto beneficia de trabalho prévio da equipa que desenvolveu software de avaliação alimentar integrando o sistema de classificação e descrição alimentar FoodEx2 e uma tabela de composição de alimentos detalhada, permitindo uma melhor avaliação da exposição. A utilização de dados longitudinais e modelos estatísticos complexos são também vantagens na obtenção de melhor evidência que suporte políticas públicas de redução da exposição a compostos adversos nos alimentos e para definição de ações de gestão de risco.